31 de agosto de 2017

Desatino! Extra – Boletim das XXV Jornadas: Loucuras & amores na psicanálise – XXV Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP RJ



 
Atividade preparatória para as XXV Jornadas da EBP Rio e ICP-RJ sobre Loucuras e Amores na Psicanálise.

A Coordenação das Jornadas, em parceria com a Comissão Científica, coordenada por Maria Silvia Hanna, convida a todos para uma conversa com Angela Negreiros, Paula Borsoi, Romildo do Rêgo Barros e Ruth Cohen, que são os responsáveis pelos quatro eixos temáticos que irão orientar os trabalhos das mesas simultâneas. Nessa ocasião, vamos escutá-los sobre a chegada dos trabalhos e sobre os temas que serão aprofundados em cada um dos eixos.

A preparatória vai acontecer no sábado, dia 23 de setembro, às 10:30, na Seção Rio, Rua Capistrano de Abreu, nº 14.

O prazo para o envio dos trabalhos vai de 10 a 30 de setembro. Não deixe para a última hora!! Os detalhes para o envio estão no Blog das XXV Jornadas.

Andréa Reis e Angela Batista



Comentário ao texto “Palabras Preliminares” (MILLER, 2006)

Por Vanda Assumpção Almeida
     
El amor en las psicosis nos enseña sobre el amor en general… Ó será por último que, el sujeto psicótico no ama, sino su delirio, según lo expresado por Freud?…las psicosis pueden entonces enseñarnos mucho sobre esa locura común que es el amor y sobre la transferencia. (MILLER, 2006, p.11)

Darei no texto dois pontos que podem nos ajudar a pensar sobre as questões do amor. Primeiramente, o fato de que “o amor é sempre narcísico” (MILLER, 2006, p.10) e, depois, a relação de proximidade que há entre o amor e a loucura, tal qual assinalada por Miller.

No que se refere à psicose, o narcisismo se pronuncia através da erotomania, no delírio erotômano, que vem servir de defesa ao que vem do Outro, uma vez que a metáfora simbólica do Nome do Pai está foracluída. Desse modo, o que vem do campo do Outro é ameaçador para o sujeito psicótico, e seu delírio é o recurso de que dispõe para dar conta do real. Seria preciso que a castração simbólica estivesse inscrita, sendo essa a condição de possibilidade para fazer barreira ao que vem do outro real como algo ilimitado. Miller destaca que o amor na psicose, segundo Lacan, é “um amor morto” (2006, p.10), ou seja, “mais que em qualquer outra parte o sujeito só ama a si mesmo, ou um ideal pelo qual substitui a realidade do parceiro” (2006, p.11), o que nos leva a indicar que a observação de Freud quanto ao amor para o sujeito psicótico é de que “ele não ama senão o seu delírio” (2006, p.11).

Inversamente, podemos dizer que “amar é antes de tudo querer ser amado” (MILER, 2006, p.11), mesmo que seja às expensas de se fazer objeto do outro no amor. Tal fato pode nos demonstrar o que afirma Miller, que entre o amor e a loucura há um limite tênue, à diferença de que estar na posição de falo do Outro, como consequência do narcisismo, tem resultados distintos para o sujeito psicótico, como demonstrado por Freud e Lacan nos casos Schreber e Aimée.

E quanto ao amor de transferência? Trata-se de um amor que traz as marcas, o traço de um amor passado, de uma experiência vivida. Desse modo, é dessa experiência que o sujeito estabelece o laço transferencial com o outro. Será o início de um tratamento que poderá levar ao que, na psicanálise, designamos como novo amor.

E quanto à psicose, o que tem Miller a dizer? Ele traz à luz a capacidade de invenção do analista, o que implica que este possa permitir o deslocamento das insígnias significantes para que a transferência se dê e, através da sua escuta, possa recolher os detritos da língua passíveis de se tornarem novas invenções, não mais de ordem ameaçadora, mas que apontem na direção de um novo amor.

Referências
MILLER, Jacques-Alain et al. Palabras Preliminares. Em: El amor en las Psicosis. Buenos-Aires: Paidós, 2006, p. 9-12.


Psicose Ordinária: um comentário 

Por Lenita Bentes


“Posso agora refletir sobre o motivo que me levou a sentir na época a necessidade, a urgência e a utilidade de inventar este sintagma – psicose ordinária. Diria que foi para driblar a rigidez de uma clínica binária: neurose ou psicose”. (MILLER, 2008, p.402)
 
O que ganhamos com o sintagma psicose ordinária é que este traz precisão ao vasto campo da psicose, flexibilizando o binarismo neurose-psicose, sem ferir as formulações de Freud e Lacan quanto às estruturas classicamente definidas.

Entretanto, a Psicose Ordinária é uma categoria clínica lacaniana, mais precisamente recolhida de seu último ensino, a qual lança luz sobre tipos de funcionamento frequentes que muito embaraçam a clínica. Trata-se da nada rara clínica denominada por Miller como Psicose Ordinária, que não tem definição rígida, mas provoca um grande “eco clínico”.

O diagnóstico impossível de concluir encontra um campo teórico clínico espesso. A Psicose Ordinária é um “terceiro excluído” da clínica binária neurose-psicose. É uma clínica dos pequenos indícios, das nuances, das tonalidades. Contudo, mostra com clareza a compensação da foraclusão do Nome-do-Pai que Lacan enfatiza desde seu primeiro ensino.

Valho-me da escritora Clarice Lispector, numa passagem esclarecedora: “devemos ter muito cuidado quando tocamos no que nos parece ser o defeito de alguém, pois, muitas vezes, é em torno dele que ela organiza a sua vida”.

Referências
MILLER, Jacques-Alain. A psicose ordinária. Belo Horizonte: Scriptum, 2012.

Encontros na pólis

Por Roberta D’Assunção

Em sua apresentação do Centro Inter-disciplinar de Estudos sobre a Criança (Cien), Judith Miller nos convoca a pensar “em que real o discurso do mestre está confrontado no seu esforço de normatização.” (MILLER, 1998) Real que interessa ao psicanalista ouvir dos pequenos grupos que habitam essa pólis inter-galáctica atual.

Recentemente, tivemos uma conversação* no CienRio inspirada pelo testemunho vivo e corajoso do pai de um adolescente autista. A lida diária e ininterrupta com o filho, bem como a dificuldade em encontrar um lugar no sistema educativo e na cidade para os dois, foram difíceis de suportar e tiveram efeitos segregativos.

Se a lei que torna obrigatória a oferta de mediação escolar garante uma vaga para a criança no discurso pedagógico, durante a conversação percebemos que será necessário ainda um “bom encontro” para  que a criança faça parte do cotidiano escolar. Necessário mas nem sempre possível. A possibilidade surge na fala da diretora de uma escola sobre o “apaixonamento” de uma criança autista por seu colega de classe que a leva a participar das atividades e se enlaçar nas amizades. O colega foi escolhido pela criança como seu mediador, desafiando as expectativas de contratar um profissional especializado para tal.

A presença do analista no Cien introduz uma lógica não dogmática e ajuda a manter vivo o real em torno do qual esses discursos circulam, abrindo brechas para crianças, adolescentes, pais e profissionais criarem suas respostas, “pois coloca em jogo novos elementos extraídos da contingência do encontro naquela conversação.” (BARROS, 2017) O psicanalista tem como tarefa destacar os significantes emblemáticos destes encontros contingentes que os laboratórios recolheram nas ruas, Caps, abrigos, escolas, hospitais, e que produzem um caldo rico de práticas e falas inéditas na cidade.

*A conversação contou com participantes dos laboratórios do CienRio: “A criança entre a mulher e a mãe”, “Singularizar o cuidado”, “Brincante”, “Digaí-Escola”, “Infância Errante” e “Pipa-Voada”.


Referências
MILLER, Judith. Cien: Apresentação por Judith Miller. Correio. São Paulo: EBP, n. 21-22, nov.1998.

BARROS, Maria do Rosário Collier do Rêgo. A prática interdisciplinar do Cien. In: Brown, N.; Macedo, L.; Lyra, R. (Orgs.) “Trauma, solidão e laço na infância e na adolescência: experiências do Cien no Brasil”. Belo Horizonte: EBP, 2017.

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