27 de agosto de 2010

O que sabe o psicanalista? Boletim nº 5 - IX Jornada DPB



Boletim IX Jornada Delegação Paraíba
Equipe responsável: Cassandra Dias, Margarida Assad e Mª Cristina Maia

Nº 5 - Agosto / 2010


IX Jornada

O que sabe o psicanalista?
João Pessoa, 05 e 06 de novembro de 2010

Convidado: Ricardo Seldes
Membro da Associação Mundial de Psicanálise
Analista Membro da Escuela de Orientación Lacaniana (EOL) – Buenos Aires

Seminário: O sintoma e o delírio generalizado
Romildo do Rêgo Barros
Analista Membro da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP)



Editorial
O tema do XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano desse ano gira em torno da clínica universal do delírio, onde o paradigma da normalidade é posto em questão, trazendo a reflexão de que mesmo na neurose, encontramos o pequeno delírio de cada um.
A Jornada da Delegação Paraíba discute o tema contando com a presença de Romildo do Rêgo Barros , que conduzirá um seminário sobre o sintoma e o delírio generalizado. Aguardamos esse momento, onde poderemos interrogar que articulação é possível entre saber/sintoma/delírio.

O saber do analista tem nos permitido abordá-lo de diversos ângulos. Em nossos encontros preparatórios, temos explorado o tema das paixões em Lacan e nos esforçado em articular o que o trabalho com as paixões do ser ou da alma - como nos ensina Lacan - pode nos acrescentar sobre o saber do psicanalista. Nesse número do boletim, Margarida Assad nos apresenta suas impressões a partir das leituras realizadas.

Prosseguindo com nossa enquete, dessa vez Elisa Alvarenga (MG), Liége Uchoa (RN), Fernanda Leal (PB), Sandra Conrado (PB) eElisabete Siqueira (PE), trazem suas contribuições ao nosso debate.


Cassandra Dias



Enquete

“O que sabe o psicanalista?”

“... que não pode retroceder diante do real...”
Fernanda Leal – correspondente DPB

“O que sabe o psicanalista? Sabe, a partir de sua análise, sobre o incurável do sintoma e o que é possível fazer com ele. Sabe que nenhum saber recobre o real e portanto, há que lidar com as contingências. Sabe fazer uso dos semblantes, na vida e na direção do tratamento de seus analisantes. Sabe, enfim, não saber, para que a singularidade do sinthoma de cada um possa advir”.

Elisa Alvarenga – AME / AE (novembro de 2000)

"O analista é aquele que precisa saber que o saber que conta é sempre o do analisando. O seu trabalho é permitir que um novo arranjo sinthomático seja possível e que as marcas ´(Letras) que a vida deixa em cada sujeito possam, através da análise, estruturar novos textos".

Liége Uchoa – membro AMP/EBP

“Mantendo-se na douta ignorância, o saber do analista caminha em direção ao impossível. Ao ceder no seu desejo, a ação do analista opera no discurso analítico como aquele que nada sabe do Outro, a não ser perturbar sua defesa”.
Sandra Conrado – membro aderente EBP/DPB

“Para mim o que o psicanalista deveria saber é da castração. A do sujeito e a do Outro. Sabendo da do sujeito saberia, como corolário, que o ego não passa de miragens e sabendo da do Outro saberia que não há garantias e como tal que viver é apostar...”
Elizabete Siqueira – membro


Paixão e Corpo



Por Margarida Assad


Intitularia o resultado de nossas leituras e discussões sobre o tema das paixões em Lacan, por Paixão e Corpo. Dizer: paixões do serou paixões da alma, como observamos no percurso da transmissão lacaniana, não nos permite especificar a relação entre paixão e corpo.

Vou partir de uma questão que me pareceu central colocada por Lacan em Televisão[1]: “Um afeto, isso concerne ao corpo?” Pergunta singela, que para mim toca uma questão nevrálgica: qual a natureza dos afetos? Lacan afirma que o que o afeto descarrega é pensamento, mesmo que ele perturbe as funções do corpo. Assim estar afetado de algo é estar marcado por uma idéia, um pensamento. Marcus André ao abordar as paixões nos aponta a passagem de Freud a Lacan em relação ao afeto. Cito: “ Ao deslocar o debate de ‘representação e energia’ para ‘pensamento e ação’[2]...Esse deslocamento apontado por Marcus André situa a paixão no âmbito da ética, um afeto que não dispensa a idéia, o pensamento. Nele se situam o significante e o gozo.

Se pensamos na personagem de Marguerite Duras: Lol V Stein, a quem Laurent[3] se refere em sua conferência sobre as paixões do ser, veremos que o que ela busca em sua amiga para quem se coloca como voyeur, é um corpo para si. Ela está afetada pelo corpo, não o seu, pois ela não o tem, e precisa de um, daí sua paixão ser encarnada pelo corpo de uma outra.

Será que esse pequeno fragmento da invenção de Duras nos permite chegar ao que há de saber na paixão? Será que Lol, com seu sintoma – inventado por Duras, não clínico - ao se colocar a olhar a relação sexual de sua amiga com seu amante ela quer saber de algo?

A pista que me dou como resposta vem da paixão da ignorância. Cito Lacan: reconhecer em seu saber o sintoma de sua ignorância.[4]A ignorância é certamente algo que afeta o corpo enquanto sintoma, sendo aquilo de onde provém o saber. Um saber impossível, só passível de ser dito quando se está causado por um outro saber, o do analista. Lol ignora seu corpo sexuado, mas é dessa paixão que emerge na carência de um corpo, (‘verdadeiro dano epistêmico’)[5], o que a faz buscar olhar loucamente sua amiga com seu amante.

Hilário Vivas[6] nos lembra que o que une o analisante e seu analista é a paixão da ignorância. Certamente uma paixão particular que o saber próprio ao analista a abre ao seu paciente. Um afeto talvez, mas com a particularidade de ser decorrente de um ‘Não há, não há um S2 . Um afeto de se saber abandonado aos efeitos da letra, verdadeira paixão da ignorância, resultado de uma experiência analítica, e, que possibilita ao analisante produzir um saber de seu sintoma.

[1] Lacan, J. Televisão. RJ. Jorge Zahar Ed. p. 41

[1] Vieira, M.A . O Real da Paixão – disponível em Biblioteca virtual EBP

[1] Laurent, E. As Paixões do Ser. Bahia. Escola Brasileira de Psicanálise. Seminário II

[1] Lacan, J. Variantes do Tratamento Padrão. Escritos. RJ. Jorge Zahar Ed.

[1] Vivas, H. Cid, La Curiosidad Infantil. Biblioteca do Passe AMP

[1] Id. Pasión de la ignorancia, . Biblioteca do Passe AMP


Bibliografia recomendada para a Jornada

Ricardo Seldes. Saber, Scilicet Semblantes e Sinthoma

Jacques Lacan. Variantes do tipo padrão, Escritos

Jacques Lacan. Resumo do Ato Analítico

Jacques Lacan. O engano do sujeito suposto saber´, em Outros Escritos

Jacques Lacan. Seminário 16, De um Outro ao outro, capítulos II, XII, XIII, XXII
Jacques Lacan. Televisão
Jacques Lacan. Nota italiana

Jacques-Alain Miller. ´O desbaste da formação analítica´, Opção 52

Jacques-Alain Miller.Como alguém se torna psicanalista na orla do século XXI

Jacques-Alain Miller.´O passe e as Escolas´

Jacques-Alain Miller. Coisas de Finura

Jacques-Alain Miller, De la naturaleza de los semblantes (lição VI)

Eric Laurent. ´O analista, semblante do objeto a´, Opção 55
Eric Laurent. As paixões do ser
Marcus André Vieira. O real da paixão


IX JORNADA DA DPB – O que sabe o psicanalista?

Coordenação Geral: Cleide Pereira Monteiro

Comissão Científica: Cassandra Dias (coordenadora), Mª Cristina Maia e Margarida Assad

Comissão Organizadora: Sandra Conrado (coordenadora), Mª de Lourdes Aragão e Vânia Ferreira
Comissão de Divulgação: Zaeth Aguiar (coordenadora), Alice Tocchetto, Mª Cristina Maia e Myrna Maracajá
Comissão Financeira: Margarida Assad (coordenadora) e Alice Tocchetto

Intercâmbio: Glacy Gorski
Internet: Cassandra Dias

INFORMAÇÕES: delegacaoparaiba@yahoo.com.br

Fone: 83. 3226.3671




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[1] Lacan, J. Televisão. RJ. Jorge Zahar Ed. P. 41

[2] Vieira, M.A . O Real da Paixão,

[3] Laurent, E. As Paixões do Ser. Bahia. Escola Brasileira de Psiacanálise. Conferência II

[4] Lacan, J. Variantes do Tratamento Padrão. Escritos. RJ. Jorge Zahar Ed.

[5] Vivas, H. Cid, em um texto: La Curiosidad Infantil. On line

[6] Id. Pasión de la ignorancia,


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