10 de junho de 2010

[EBP-Veredas] Boletim da IX Jornada da DPB - Nº 01

Boletim IX Jornada Delegação Paraíba
Equipe responsável: Cassandra Dias, Margarida Assad e Mª Cristina Maia

Nº 1 - Junho / 2010
IX Jornada O que sabe o psicanalista?
João Pessoa, 05 e 06 de novembro de 2010
Convidado: Ricardo Seldes
Membro da Associação Mundial de Psicanálise -Analista Membro da Escuela de Orientación Lacaniana (EOL) – Buenos Aires - Argentina
Editorial
A Paraíba realiza esse ano, as suas IX Jornadas, dessa vez discutindo o tema “o saber do analista”. Escolhemos essa temática por ser algo que toca o kern da experiência analítica, uma vez que esta se propõe a promover uma modificação na relação do sujeito com o saber. Se não se trata do saber pela via do logos nem muito menos do saber na perspectiva do discurso da ciência e da religião, qual a especificidade do saber que é produzido pelo sujeito em análise?
Tomando a questão também pelo lado avesso, nos perguntamos: o que deve saber um analista para exercer sua prática? O psicanalista seria um especialista em decifrar o inconsciente e o sintoma? Ou o saber do psicanalista é de uma outra ordem, distinto à arte do oráculo, mestre em decifrar enigmas? O saber do psicanalista estaria mais próximo daquilo que um sujeito pode extrair como saber da satisfação encontrada com o seu próprio sintoma? Tomando como ponto de partida essas perguntas, procuraremos contornar essa questão em nossa preparação para as Jornadas.
Como convidado ao debate, receberemos mais uma vez, Ricardo Seldes, da vizinha Escuela de Orientación Lacaniana (EOL – Buenos Aires), a quem tomaremos como parceiro de interlocução. Trata-se de um retorno à Paraíba, uma vez que Seldes já esteve trabalhando conosco no ano de 2006, sobre o tema do amor. Seldes é Analista Membro da Escola (AME), Membro da Associação Mundial de Psicanálise e diretor de PAUSA – Psicanálise Aplicada às Urgências Subjetivas, um centro de atenção psicanalítica imediata em situações de crise para crianças, adolescentes e adultos, que funciona em Buenos Aires.
Nesse primeiro número do Boletim, contamos com suas contribuições iniciais ao tema, através de uma reflexão sobre o artigo de Lacan “Variantes do tratamento padrão”. É com o espírito de fomentar a discussão e estimular as parcerias, que estamos experimentando as novas tecnologias da comunicação a serviço da Psicanálise, através desse boletim.
Pretendemos com esse recurso, estender o debate que acontece em nossos seminários preparatórios a um número maior de pessoas interessadas na Psicanálise e nesse objeto que pode ser produzido ao final de uma experiência analítica, o que um analista precisa e pode saber.Textos curtos, pontuações, resenhas, além das informações relativas às IX Jornadas da DPB serão postadas nesse boletim, como forma de construirmos o trabalho com os que são tocados pela questão do analista. Uma boa leitura a todos!
Cassandra Dias

Algumas reflexões sobre Variantes do tratamento padrão
Partimos da “douta ignorância” como orientação de Lacan de que o não saber é o coração do que um analista deve saber.
O que é que não sabe o analista e o que é que ele sabe?
Como definimos o saber e como definimos o não saber?
Para o paciente, o analista deve saber algo para poder articular algo do não dito, para poder interpretar seu desejo. Em “Variantes do tratamento padrão”, Lacan assinala esse traço necessário, chama-o a fé ingênua que o sujeito que se ocupa concede a seu poder, porém adverte que melhor será que não se identifique com ele, porque se assim o faz, aparecerá como a cortada de seu próprio desconhecimento.Não enaltece o não-saber como um empuxo ao desconhecimento, senão que, em sentido contrário, o ato analítico está inscrito em certo empuxo-a-saber.
A pergunta obrigatória é: como faz para não saber o que sabe? E especialmente quando instigamos aos analistas a estudar, a analisar-se, a supervisionar-se, quando insistimos no tripé da formação analítica. Quando se ordena a experiência, quando a põe sob a forma de um modo organizado, quando se ordena em um saber, ali se corre o risco de construir um standard, ou seja, um tratamento padrão. Uma prática assim sustentada conclui, indefectivelmente, na construção de regulamentações, de universalizações estendidas ao máximo.
Que fazemos com a experiência acumulada quando nos opomos a armar standards ou seja, tratamentos padrão? Há um falso saber que é standard porque obtura a particularidade do caso, a particularidade do sujeito. O que colocava Freud e ressalta Lacan, é que cada cura é particular e que nenhuma cura serve para outra, o que se conclui que o saber da experiência, enquanto sendo do analista, é uma resistência. O que autoriza o analista a considerar privilegiado, seu saber?Não se trata do imbecil termo do “vivido” para qualificar o conhecimento que lhe vem de sua própria experiência como analisante.
Este saber é o que faz do analista, um homem que não é como os demais. E o curioso é que a análise é uma operação que se realiza com o mais comum dos instrumentos humanos, a palavra. Nisso, não há diferença com qualquer outro homem e podemos dizer com qualquer outro que se consulta pelo que não anda. O analista se distingue dos outros porque faz da palavra, um uso diferente. Um uso que não está ao alcance de todo mundo quando toma a palavra. O analista faz algo distinto com a palavra do sujeito, a partir de um uso diferente da sua própria palavra. O analista é convocado ao semblante do SSS, porque este é o efeito automático da associação livre, a grande geradora de significações.
Como escapar desse efeito automático que só produz standards frente ao impasse do real?O próprio do campo psicanalítico é supor que o discurso do sujeito se desenvolve normalmente na ordem do erro, do desconhecimento, da denegação. Que não é exatamente a mentira, nem o erro, senão algo que está entre os dois.
Uma última pergunta, então: em que consiste a relação ao saber na experiência analítica, se o ato analítico é aquele que tem efeitos que não são somente semblantes, mas efeitos que são reais?Ricardo Seldes
Tradução: Cassandra Dias

IX JORNADA DA DPB – O que sabe o psicanalista?
Coordenação Geral: Cleide Pereira Monteiro
Comissão Científica: Cassandra Dias (coordenadora), Mª Cristina Maia e Margarida Assad
Comissão Organizadora: Sandra Conrado (coordenadora), Mª de Lourdes Aragão e Vânia Ferreira
Comissão de Divulgação: Zaeth Aguiar (coordenadora), Alice Tocchetto, Mª Cristina Maia e Myrna Maracajá
Comissão Financeira: Margarida Assad (coordenadora) e Alice TocchettoIntercâmbio: Glacy Gorski
Internet: Cassandra Dias
Fone: 83. 3226.3671

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